terça-feira, 16 de janeiro de 2018

The dark side of my mind

                A vida tem umas coisas engraçadas. Vira e mexe somos pego de surpresa e nossas crenças são viradas de ponta cabeça. Quando a gente começa a achar que entende de algo, a experiência aparece e mostra que sabemos pouco, quiçá, nada. Sem perceber, somos forçados a nos reinventar constantemente, reaprendendo a caminhar e buscando pontos de vista que façam os acontecimentos mudarem de perspectiva, talvez numa tentativa desesperada de explicar o inexplicável. Talvez vivamos tanto no piloto automático, que perdemos a capacidade de parar por um tempo e observar os aprendizados que a vida nos dá: a informação simples, pura e na sua forma mais bruta. 
                Nas últimas semanas eu comecei a olhar com mais carinho para o que se passa na minha vida. Passei a tentar entender as faíscas que são geradas internamente toda vez que um pequeno incêndio acontece, afinal, onde há fogo, há fumaça. Onde há fumaça, há ingredientes pra combustão. E onde há combustão, é porque existe um misto de sentimentos e reações por trás disso tudo. É a beleza de se olhar pras experiências em busca de entendimento e não somente do que se vive, tirando do subsconsciente a ideia de que podemos apoiar quaisquer reações em nossos sentimentos. Sentir é preciso, mas entender o que se sente talvez seja ainda mais crucial para se evoluir na vida.
                Quando entendemos nossos gatilhos mentais e emocionais, somos capazes de separar emocional e racional. Quando conhecemos as reações da nossa mente ao que a vida oferece, podemos ser muito mais gratos por estas experiências. Se não há gratidão, tudo se torna turvo e coberto por uma camada de ignorância, dor e sentimento de injustiça, afinal, não é possível conectar pontos olhando pra trás, somente pra frente – e do futuro ninguém sabe. Mora aí um dos nossos maiores enganos: a tentativa de buscar explicações para tudo o que nos acontece com base no que se foi, como se o próprio passado não fosse a consequência e não a causa de tudo. A definição é simplista, mas os conceitos não são simples – e a nossa mente se engana aí.
                Decifrar os labirintos da própria mente é uma tarefa árdua, dolorosa e que requer esforço e dedicação. Geralmente não estamos dispostos a enfrentar tantos medos, bloqueios e a caminhar pelo lado escuro daquilo que está dentro de nós. Levei muitos anos pra entender que é ali que mora o meu melhor lado, que saem dali as minhas melhores ideias e que tudo o que me impede de crescer, normalmente se esconde atrás das sombras daquilo que eu não quero enxergar. Comecei a gastar mais energia pra entender aquilo que me faz desviar e descobri um lado mais sereno, pleno e bem mais esclarecido de tudo o que se passa comigo. Mas não foi fácil e talvez nem devesse ser, afinal, como podemos ser melhores se não estamos dispostos a pagar o preço deste aprendizado?
                 Hoje eu acordo de manhã e repito pra mim: "Siga em frente, siga com medo, siga se descobrindo, mas... siga!"

PS: Esse texto merece um trecho de uma música do John Mayer que me remete a tudo isso que foi dito.
Age of worry - John Mayer (Born and Raised album, 2011)

"(...) Don't be scared to walk alone
Don't be scared to like it
There's no time that you must be home
So sleep where your darkness falls(...)"

quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Vestígios de um pretérito quase perfeito

O que vai ficando na vida são as lições que aprendemos ao longo do tempo
São as cicatrizes que doem quando as apertamos
São as pessoas que se foram, mas que tanto deixaram delas em nós
Seguimos sendo uma soma de tudo o que vivenciamos e daquilo que assimilamos
Porque para aprender é preciso querer e estar preparado
Lições vem e vão, mas poucas delas são internalizadas como deveriam
E quando não são, tornam-se feridas abertas sem o propósito a ser aproveitado

Os vestígios do pretérito podem ser os pesadelos do presente e os depressivos do futuro
São as feridas em aberto e as mentiras que contamos a nós mesmo
Como um espelho distorcido daquilo que a gente acha que vê
E que nos conduzem por aí tocando tudo com o subconsciente
Inconsciente dos vestígios que deixaremos por onde passamos, em quem vivemos

E um dia nos damos conta de que a bagagem cresceu rápido demais
Que o presente passa rápido demais
E que o futuro paga a conta pelos dois – um dedo na ferida por vez, por dia e todo dia
Despriorizamos quem somos, vivemos rodeados de gente...
Mas acabamos sempre sentindo falta disso
E a cada noite volta o passado pra nos lembrar disso tudo

Por que esquecer se precisamos lembrar que somos, no fim, apenas humanos? 

segunda-feira, 8 de janeiro de 2018

Aprendizados atemporais

Com o passar do tempo, passei a acreditar que a importância dos fatos em nossa vida pode ser exacerbadamente aumentada dependendo do quanto de atenção damos ao tema. É como se a energia gasta ao se pensar naquilo servisse como uma lupa que distorce a realidade daquilo – é quando, frequentemente, nos pegamos pensando no que aconteceu ou no que pode acontecer. Nada disso é mutável ou, até aquele momento, indica que irá acontecer. São conjecturas, como uma câmara de tortura na qual nos colocamos e que insiste em machucar; quase sempre, sem razão.
Ao longo dos anos, aprendi que há problemas que aparecem e que alguns outros nós criamos, mas que não importa o tipo, os problemas passam. Por bem ou por mal, eles passam. É aí que você percebe que o valor da vida não está na solução, mas sim em curtir e aprender durante o percurso de solução – que, diga-se de passagem – pode ser longo. Aprendi também que, para quem está vivo, o dia seguinte sempre chega. Sempre. As noites passam, o sol vem e vai e, por fim, o calendário segue. O mundo não para só porque você quebrou a cara, já dizia Shakespeare.
Nos últimos tempos, passei a entender cada vez mais a importância de se trocar energia boa e com as pessoas certas. Somos energia, traduzida de uma forma diferente, mas é isso que somos. Quando conectados com as pessoas que nos trazem bons ventos e palavras necessárias, é como se tudo fizesse sentido de uma hora pra outra. Comecei a compreender que os grandes amigos são como as pílulas de coragem que a gente precisa pra seguir em frente, sempre nos lembrando do quão forte somos e do quanto podemos sustentar. Ah, como aprendemos como eles.
Ultimamente tenho olhado mais pra dentro e pensado mais com o coração. Aprendi que o meu lado racional me ajuda em muita coisa, mas o que eu sinto nunca se engana. Passei a entender muito mais a importância de se entender, de entender o outro e de saber ler o mundo. Ah, é tão mais “fácil” quando enxergamos os sinais do que está ali, querendo ser visto. Depois de um tempo é tão óbvio que eu me pergunto como não enxerguei antes – e chego à conclusão de que é preciso estar pronto para isso.
Uma hora você aprende que coisas vem e vão, que pessoas entram e saem da sua vida e que nem todo final é feliz. Existe dor, sofrimento, decepções e gente que se vai sem a oportunidade de se despedir. O caminho é inevitável para aqueles que tem a sorte de continuar por aqui e, se não for pra aprender todo dia, para que se vive? 

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

Essência

Somos primaveras de contos, histórias e memórias
Somos amigos, família e uma coletânea momentos de alegria e sofrimento
Vivemos aprendizados disfarçados de dor e felicidade disfarçada de amor
Sentimos pelo que não temos e queremos aquilo que já tivemos
Buscando mais e mais aquilo que nos completa, mas que não tem nome
Como se a vida fosse um contínuo e eterno ganha-perde em busca de algo que não sabemos
Um jogo jogado no escuro, sem regras e sem hora pra acabar...
Só que ele sempre acaba

Respiramos muito do que nos modificou e acreditamos em padrões do que vem por aí
E por ironia do destino, futuro e passado não são o mesmo
Até que você, que tanto não quer a repetição, repete aquilo que não quer
E como se o subconsciente não quisesse tanto, a gente volta ao que já teve
E assim nos prendemos no círculo vicioso novamente
Fingindo que a mente não entende aquilo que contamos a nós mesmos todos os dias

Erramos até acertar e somos feitos desses erros
Erros que ensinam, que mostram como o futuro poderia ser diferente
Por que errar duas vezes em algo que a vida já nos ensinou?
Seria desleixo com o próprio sofrimento ou uma visão bloqueada pelo que não queremos ver?
E se vemos aquilo que nos afetou, por que perpetuamos isso?
Porque as vezes é preciso errar com convicção para que seja possível deixar algo pra trás

E assim seguimos, entre idas e vindas, errando e aprendendo
Sofrendo, amando, chorando e vivendo
Sentindo o peso de ser quem somos
Sendo aquilo que esperamos poder ser dia após dia...

Melhores.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Sobre o agora, o antes e o depois

É curioso pensar que vivemos uma vida dividida em horas, minutos, dias, anos... noções tão vagas de uma unidade temporal que se fez necessária em algum momento da história. E com ele – o tempo – fomos nos tornando reféns dessas métricas que não deveriam representar tanto na nossa história. Criamos o relógio e, com ele, a noção do “tempo certo” para se viver. Esperamos a segunda começar pra mudar os hábitos e pulamos 7 ondas no Ano Novo porque isso vai trazer sorte, como se o dia anterior fosse assim tão menos especial que a noite de fogos.
Caminhamos pra frente, vivendo o tic tac do momento (teoricamente), sustentados por tudo aquilo que um dia nos aconteceu. É, meus caros, somos a somatória de absolutamente tudo que já rodou no relógio de cada um: alegrias, tristezas, decepções, conquistas, viagens e todo o resto que compõe essa montanha russa de emoções chamada vida. Engraçado é perceber que, apesar de termos a vida acontecendo agora, exatamente enquanto você lê esta frase, vivemos uma parte massiva dos nossos dias pensando no antes e no depois. Dormimos conjecturando o que podia ter sido diferente no passado, criando cenários que nunca existiram – talvez em algum universo paralelo – e sofrendo com a ansiedade de quem tenta adivinhar o futuro.
Ah, meus amigos... o tic tac é perspicaz, malandro e geralmente opera de forma pouco compreensível. Nós achamos que entendemos o relógio, mas ele é só um símbolo de tudo o que nos acomete dia após dia: a vida indo embora, passando. Rápida e cheia de nuâncias, curvas e charadas aparentemente indecifráveis pra quem as vive – como se a vida por si só não fosse uma grande charada.
É intrigante pensar que “temos” o tempo escorrendo pelas nossas mãos no presente, mas acabamos nos prendendo no que já aconteceu ou naquilo que pode nem acontecer. Um pouco estúpido eu diria e seria cômico se não fosse trágico. O problema disso tudo é quebrar esse ciclo de expectativas, ansiedade e uma cabeça distante. Concentrar-se no que existe hoje talvez seja o melhor caminho pra garantir que o amanhã será melhor – e quando os dias passarem, o amanhã será o ontem e poderemos dormir com a consciência mais tranquila de termos um passado do qual nos orgulhamos. O antes, o agora e o depois: os mesmos momentos de uma história que segue separada mas que nunca deixou de ser um só.
O agora já se foi e você... viveu?